Sem uma discussão ampla com todos os elos da cadeia cinematográfica e previsto para ser votado em regime de urgência na próxima terça-feira, 29, no Senado Federal, o Projeto de Lei da Cota de Tela (PL 3696/23) de autoria do senador Randolfe Rodrigues, que estabelece a obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais, pode ser uma pá de cal para os exibidores brasileiros, que ainda sofrem com os impactos da longa paralisação provocada pela pandemia do coronavírus (Covid-19).
A proposta, segundo as principais entidades representativas do setor, pode provocar o fechamento de complexos cinematográficos que mantêm entre uma e três salas em pequenas e médias cidades do País, entre outros efeitos.
Representantes da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec), Associação dos Exibidores Brasileiros de Cinema de Pequeno e Médio Porte (AEXIB), Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul e a Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (ABRAPLEX) estiveram em Brasília para defender um maior debate, mas não foram atendidos.
O PL desconsidera que os cinemas estão sofrendo com a falta de lançamentos, sejam nacionais ou internacionais, que tiveram as produções paralisadas durante a crise. Mesmo após a reabertura das salas, o setor ainda está com índice 35% inferior de lançamentos, níveis de público 40% abaixo do cenário pré-pandemia e administrando milhões em dívidas acumuladas no período, situação que tende a se agravar com a greve de roteiristas e atores de Hollywood, ainda sem solução.
Venda de ingressos no País:
- Em 2019 – 177 milhões de ingressos vendidos
- Em 2020 – 40 milhões de ingressos vendidos
- Em 2021 – 53 milhões de ingressos vendidos
- Em 2022 – 97 milhões de ingressos vendidos
- Em 2023 até agora – 79 milhões de ingressos vendidos
(A estimativa é de que os resultados serão inferiores ao ano anterior, em virtude da greve)
Market Share baixo
O market share do cinema nacional nunca esteve tão baixo. Enquanto a média nos últimos 20 anos foi de 13%, aproximadamente, em 2023 está em 1,5%.
“É um absurdo responsabilizar os exibidores pela ausência de filmes brasileiros nas salas. Em 2019, exibimos 97 produções nacionais. Neste ano, foram cerca de 120 e o market share continua baixo. Além da falta de divulgação, durante a pandemia a janela de exibição entre os cinemas e a disponibilização no streaming foi reduzido de 90 para 30 dias, o que tem obrigado os exibidores a apostarem em programar, em muitas salas, os poucos filmes que podem atrair grande público como Barbie e Oppenheimer”, explica Marcos Barros, presidente da ABRAPLEX.
Pleito
Os exibidores querem que o PL não seja votado em regime de urgência e que se abra um debate sobre os impactos regulatórios e econômicos envolvendo todos os elos da cadeia (ANCINE, Conselho Superior de Cinema, produtores, distribuidores e exibidores).
“A Cota de Tela, para ser um verdadeiro estímulo ao cinema nacional, deve estar acompanhada de uma política mais ampla e que envolva mecanismos de fomento e incentivo às produções realizadas por empresas brasileiras e não só a obrigatoriedade de exibição. Não podemos obrigar o público a comprar ingressos para o que ele não quer ver”, afirma Barros.