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Médicos Sem Fronteiras vê situação urgente com aumento de fluxo migratório na divisa entre Colômbia e Panamá

Mais de 300 mil já cruzaram a selva de Darién em 2023 e organizações humanitárias estão sobrecarregadas
Somente na terça-feira, 22 de agosto, havia mais de 4.800 migrantes nos pontos de chegada ao Panamá. | Foto: Divulgação

Desde o início de 2023, pelo menos 307 mil pessoas foram forçadas a cruzar a perigosa selva de Darién, na fronteira entre a Colômbia e o Panamá. Somente na terça-feira, 22 de agosto, havia mais de 4.800 migrantes nos pontos de chegada ao Panamá.

Ao todo, mais de 50 mil pessoas já haviam cruzado a selva mesmo antes do final deste mês de agosto. Todos os dias, a comunidade indígena de Bajo Chiquito, no Darién panamenho, assiste à chegada de entre 2 mil e 3 mil migrantes, o que representa de quatro a seis vezes o tamanho da população local.

Diariamente, mais de 2 mil pessoas são forçadas a enfrentar o caminho repleto de riscos em meio à selva. Elas estão sujeitas a ferimentos e afogamentos devido a condições geográficas, roubos, agressões e violência sexual, por causa da ação de grupos criminosos no território.

Ao chegarem ao Panamá, esses migrantes não encontram os cuidados dos quais necessitam. “As organizações humanitárias não estão conseguindo lidar com o aumento de pessoas que chegam diariamente. Nas últimas semanas, tivemos dias com até 3 mil migrantes em um único ponto”, explica José Lobo, coordenador de projeto de Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Darién panamenho.

A grande maioria chega com algum tipo de problema de saúde: desde feridas nos pés e dores devido à intensa jornada; diarreia e doenças gástricas por terem bebido água do rio; até depressão, ansiedade e estresse pós-traumático após terem vivido ou presenciado eventos violentos.

As rotas variam de acordo com a estação, mas atualmente a maioria dos migrantes sai de Capurganá ou Acandí (na Colômbia) e chega a Bajo Chiquito, de onde embarcam em canoas até a Estação Temporária de Recepção Migratória de Lajas Blancas. Em ambos os pontos, tem ocorrido superlotação nas últimas semanas, o que agravou os riscos à saúde e à segurança dos migrantes devido à falta de água e de espaço para dormir.

“O aumento foi tão grande que tanto as comunidades locais quanto as organizações nas estações temporárias de recepção migratória, especialmente a de Lajas Blancas, ficaram sobrecarregadas”, reforça Lobo.

MSF possui três postos de atendimento na região: um em Bajo Chiquito e dois nas estações temporárias de recepção migratória de Lajas Blancas e de San Vicente. Nas filas de espera do lado de fora dos postos de saúde, dezenas de migrantes esperam cansados.

“Há muitas crianças desidratadas com diarreia, então não há nada a fazer, elas têm de ser atendidas primeiro”, disse uma venezuelana de 30 anos com bolhas nos pés devido ao atrito dos sapatos.

Entre janeiro e julho de 2023, a equipe de MSF forneceu 35.912 consultas médicas e de enfermagem, incluindo atendimentos para 673 mulheres grávidas e 206 sobreviventes de violência sexual. Além disso, realizaram 1.611 consultas de saúde mental e fizeram 6.952 curativos.

Outras organizações estão presentes na área, mas as necessidades atuais ultrapassam a capacidade de todas. Por isso, insiste Lobo, “pedimos urgentemente a todos os doadores e organizações humanitárias que multipliquem seus esforços, e aos governos do Panamá e da Colômbia que desenvolvam ações efetivas para garantir uma rota segura à população migrante e o acesso a serviços básicos”.

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